24 de outubro de 2007
Palhaços
"Aqui se sentem como no exílio. No exílio não só do palco, mas quase também de si mesmos. Porque a sua ação, a ação viva do corpo deles vivo, ali, na tela dos cinematógrafos, não mais existe; há somente a sua imagem, captada num momento, num gesto, numa expressão que brilha e desaparece. Percebem confusamente, com um sentimento inquieto, indefinível de vazio, aliás, de esvaziamento, que o seu corpo é quase subtraído, suprimido, despojado da sua realidade, do seu respiro, da sua voz, do barulho que ele produz ao movimentar-se, para se tornar somente uma imagem muda, que treme por um momento na tela e desaparece em silêncio, de repente, como uma sombra inconsistente, jogo de ilusão sobre um esquálido pedaço de pano. Eles também sentem-se escravos desta maquininha estridente que sobre o tripé com pernas embutidas parece uma grande aranha à espreita, uma aranha que suga e absorve a realidade viva para torná-la aparência evanescente, momentânea, jogo de ilusão mecânica diante do público. E aquele que os despoja de sua realidade e dá de comer à maquininha, que reduz a uma sombra o corpo deles, quem é? Sou eu, Gubbio".
Luigi Pirandello, "Cadernos de Serafino Gubbio operador", Ed. Vozes, São Paulo, 1990, p. 72.
(Sobre o trabalho do ator no cinema mudo (lançado originalmente em 1915).
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