22 de maio de 2008

A Política do Menos-Filmes


A Política do Menos-Filmes


Quanto menos filmes melhor. Essa parece ser a política instituída nos parcos festivais de cinema de Goiânia. "Menos é mais", como dita a moda dos novos-filmes que têm sido realizados com "menos é mais" orçamentos. Talvez seja aos recursos financeiros, e não aos recursos dramáticos, que se refere esse tão utilizado nouveau jargón.

Levando em consideração que a cada ano a produção de filmes em Goiás só aumenta, seria de se esperar que aumentassem também a quantidade de filmes que são exibidos nas mostras goianas. Entretanto, esse não parece ser o caso.

Em 2007, o Festival Goiânia Mostra Curtas exibiu 20 produções goianas, bem como em 2008. Fortuitamente, o tempo de exibição aumentou em 7 minutos: um curta (ou dois ou três) a mais em exibição.
Sobre o FICA “não há o que se dizer” tendo em vista que nos últimos anos a cota mínima dos filmes locais tem sido a cota máxima do júri de seleção. Já que eles têm que premiar 02 curtas goianos, é preciso disfarçar e colocar 04, senão não tem competição. Certo?

Aos que não visitaram novamente a página do Festival Ambiental de Goiás, houveram alterações na grade de programação. Filmes antes colocados como média foram remanejados para a metragem de curtas, que aumentos de três para seis obras. Rumores sugerem que a discussão da lista da AGCV provocou a alteração.
E por falar em FICA, a já apelidada Mostra Paralela da Associação Brasileira de Documentaristas de Goiás (ABD/GO), que acontece simultaneamente à programação do FICA, neste ano vai exibir um tempo menor de filmes e um número menor de obras. Em 2007, de acordo com a lista oficial de selecionados, foram exibidas 22 obras, totalizando 389 minutos de projeção. Este ano serão exibidos 14 filmes, num total de 372 minutos. A diferença de 17 minutos aparenta ser pequena, mas quando se fala em uma produção cuja maioria dos produtos são curtas, pode-se pensar aí em alguns curtas a menos.

Ao menos a curadoria da ABD/GO nas duas últimas edições tem sido feita por pessoas de fora de Goiás, o que sugere uma busca por maior legitimidade nas seleções dos filmes. Um problema desse tipo de curadoria é a falta de sensibilidade para avaliar uma região e um possível olhar “antropológico” e “afetado” sobre as obras goianas. E ainda, pensando em como nossa formação cultural é considerada defasada, até por nós mesmos, legitimamos nossa incapacidade de sermos honestos com nós mesmos, e continuaremos temendo pela antiga política do “pacto da mediocridade”.

A situação do FestCine Goiânia pode ser vista como uma exceção com relação aos outros festivais de cinema promovidos no Estado. Em 2007, foram exibidas 84 produções goianas, contabilizando aproximadamente 10 horas e 43 minutos de exibição. Só de filmes universitários foram 50 obras, metade do tempo total de projeção. A Mostra Caseira exibiu 14 filmes em 48 minutos, e a Mostra Goiana os habituais 12 curtas (152 minutos), que em 2006 totalizaram 171 minutos. O grande número de horas de exibição deve-se também à exibição dos filmes realizados com o prêmio-estímulo, ao curta convidado e aos filmes realizados com o Edital de Roteiros do Festival, que em 2007 exibiu 05 curtas ao longo de 93 minutos.

A política do menos-filmes ainda engatinha em Goiás. Esperamos que este processo retroceda e consiga encontrar alternativas em que se exibam o maior número de filmes, dando ao público a oportunidade de conhecer as diferentes obras que têm sido feitas por aqui, e repassando a eles o direito de julgamento sobre a competência ou incompetência dos diretores sobre seus filmes.

Podemos citar 02 bons exemplos a ser seguidos em Goiás. O FestCine Amazônia de 2007 exibiu todos os filmes que foram enviados para o evento. A seleção foi feita, sim, mas para incluir determinadas obras na Mostra Competitiva. Os não-selecionados não deixaram de ser exibidos, apenas não competiram. Um grande exemplo de “vontade de projeção”.

A 8ª Mostra de Filmes de Taguatinga (DF) também segue proposta semelhante, conforme está explicitado no regulamento de inscrição do festival: “Se o número de produções inscritas ultrapassar os 840 minutos de exibição será constituída uma comissão de seleção para definir quais filmes participarão do evento. Os filmes selecionados serão oficialmente comunicados”.

Podemos e devemos questionar a qualidade dos filmes que nós produzimos. Entretanto, para que a discussão possa acontecer é preciso que os filmes sejam projetados, vistos, passados, exibidos. Um filme que não é visto não existe.

Por Lígia Benevides
Jornalista, produtora cultural e fazedora de filmes

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