Não é a vida um eterno retorno?
Faz tempo que eu não escrevo.
Por ondam as palabras que sempre acompanhei, que sempre me acompanharam.
Escrever, para mim, foi desde cedo uma necessidade. E quando era criança escrevia bem mais do que escrevo agora. E eu não fiquei com nenhum dos cadernos em que escrevi minhas estórias. É insuportavelmente dolorido querer reler e não poder, absolutamente não poder. A curiosidade não dá trégua à minha falta de memória.
Talvez por isso eu tenha ficado depois praticamente obcecada em guardar e registrar tudo o que escrevi. Eu gosto de reler. Imagino que seria uma viagem no tempo poder, aos setenta e tantos anos, rever coisas que escrevi aos 8, 9, 10 anos de idade, e reviver a sensação daquela imaginação infantil que escrevi. Ao contrário de alguns escritores, tenha essa necessidade. De fato, é melhor não tê-la, mas encontro apoio na minha saudade por se tratar da minha infância.
Dito isso, e encontrada no coração um leve sopro de resignação, ponho-me a pensar que posso escrever outras histórias, como há muito tempo não o faço. Sinto a vontade pulsar em mim lentamente. Voltar a escrever, porque voltar a imaginar, a supor e a pensar.
Fazer desta casa um centro cultural de leitura, escrita, e produção de arte. Que sonho seria. Tem-se o espaço de um escritório no fundo da cozinha, como bem observou um amigo.
Começa 2010 com ares de um ano muito positivo para o trabalho. Será que porque eu estou com esta vontade, sinto-a em toda a gente ao redor? A necessidade de produzir pensamentos, textos, promover ações, mover-se física e mentalmente, que me parece tão cara à humanidade, converge-se de forma tanto positiva quanto negativa no ato de trabalhar.
Qual a diferença entre arrumar um emprego e trabalhar?
Arrisco dizer que me parece que o emprego é uma função, pré-determinada, a que uma pessoa busca em um local específico, dado na realidade da existência. O trabalho é, por sua vez, uma feitura laboral primária: é o ato em si de executar uma ação que, muitas vezes conjugada com outras, realiza, afinal, seu propósito.
Há tanto que eu tenho que ler. Creio que só assim voltarei a escrever, e escreverei então textos que valerão a pena ser lidos, textos que serão buscados ou que, se por acaso encontrados, terão sua importância.
Meus roteiros, os personagens, as vidas possíveis, as vidas vividas. A minha própria vida, meu sentido de existir atrelado ao que eu faço de tudo o que aprendi até agora. Necessidade física, de sobrevivência, de me exprimir, de ser alguém no mundo.
Hoje não posso responder a essa pergunta com a mesma segurança que um dia eu respondi.
Começa 2010 com ares de ano novo.
Ares de ano bom.
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