Bem, conforme eu ia dizendo, assisti agorinha no TeleCine Cult o filme Wristcutters - A Love Story (em português, Paixão Violenta [???]). Adiantei no Facebook (!) que só vi o filme porque ele estava passando no TeleCine Cult, que não costuma exibir o mesmo lixo dos canais Premium, Action e Pipoca (enfim, o resto). Afinal de contas, o que tinham em mente as pessoas responsáveis por fazer essa versão em português do título?
(A) Desmoralizar o filme perante o público brasileiro
(B) Desmoralizar o TeleCine Cult diante o público do Brasil
(C) Desmoralizar o Sindicato dos Tradutores de Filmes do Brasil S/A?
(D) Estimular o corpo estudantil de línguas estrangeira anglo-saxônicas a buscar verdadeiras versões?
(E) O.K., já entendi, o título é uma merda.
Esse título, "Paixão Violenta", não tem absolutamente nada a ver com o filme. Acho que a pessoa que fez a versão sequer leu a sinopse. A companhia de distribuição desse filme no Brasil, a Fox Home, errou feio com essa escolha. Seria tão mal traduzir o título para "Suicidas - Uma História de Amor"? É, talvez. A palavra "suícidio" é cheio que nheco-nhecos e quiprocós. O.k., vejamos então... "Amores Cortantes"? É ruim, mas é melhor que "Paixão Violenta".
"Paixão Violenta" é nome de filme que passa de madrugada, ou de livro de banca de revista impresso em papel jornal. Geralmente de produção dos EUA, esse tipo de filme se limita a possuir personagens com má formação dramática, cujos problemas são todos oriundos da high school. Esse pessoal é muito fresco. Ah, se eles tivessem estudando com Carrie... Esses personagens mal formados geralmente lidam de forma patética com seu subproblemas, não havendo limites possíveis para os remendos do conteúdo do roteiro, nem para a naturalidade frígida com que os diálogos acontecem. É tudo na base do "I love you", "I hate you" e "C'mon". Que mais? Bem, geralmente rola uma cena de sexo logo no começo do filme: o casal se ama pra caralho, eles têm uma convivência plena. Mas, a menina, geralmente uma garota muito boa e tal, descobre que o cara é psicopata (ou sociopata, hoje está mais em voga). Ele chega bem na hora em que a farsa é descoberta. Ela disfarça da pior maneira possível, ficando sem graça e dispensando seu carinho apaixonado. Como todo bom psicopata, ele é super inteligente e rapidamente percebe o que está acontecendo. Depois de torturá-la com piadinhas sexuais de baixo calão, provocando nojo no espectador e na mocinha, ele promove o leitmotiv do filme: violência seguida de promoção da insanidade mental do cidadão dos EUA. Não é à tôa que eles comem tanto.
Faço aqui um apelo para que as empresas de distribuição reflitam mais sobre a tradução que vão dar aos filmes, pois casos como esse da "Paixão Violenta" deprimem o telespectador e afastam o mesmo da sala de cinema, da locadora, do vendedor 3 por $10...
Apesar do título, o filme foi, de fato, uma surpresa agradável, pois o roteiro coloca diversas situações que te levam a passar por vários sentimentos diferentes: angústia, medo, surpresa, amor, rejeição... Sem contar que o filme tem seus momentos de fazer graça bem pontuados, que acontecem quando você espera - mas ainda não percebeu. Por tratar-se de um fillme que fala sobre suicídio, a princípio imaginei que ele seria mais pesado, mais dramático. Apesar de tocar em assuntos que renderiam um drama, o filme se aprofunda mais no caminho da busca do que no ponto de chegada, o que leva o espectador a viajar tranquilamente com os personagens, sempre instigado.
A história é assim: após cometer suicídio, o jovem Zia (interpretado pelo mesmo ator de "Quase Famosos", aquele que faz o mini-jornalista fã de rock) vai parar em uma espécie de Purgatório que se assemelha muitíssimo à Terra, especialmente às cidades-fantasma que hoje encontramos no próprio EUA (como a cidade-natal do documentarista de plantão Michael Moore). Neste local encontram-se apenas pessoas que se mataram, e os momentos dos flashbacks suicidas dão aquela pitadinha no filme. A vida lá é praticamente como a vida dos "vivos", porém pior (será o benedito?). A fotografia do Purgatório se difere das lembranças de quando os suicidas eram vivos: a primeira é acinzentada, sem cor, sem brilho, desaturada; a segunda é toda arco-íris. No começo do filme, você acha que o cara simplesmente sobreviveu e tá trabalhando em uma pizzaria, mas o diretor aos poucos lança as dicas de que não só Zia, como todos os outros, também estão mortos, em off, "suicidados": um verdadeiro Vale dos Suicidas, onde os únicos demônios são os da própria alma da pessoa.
Em busca de sua ex-namorada linda, loira e pentelha, sua causa mortis, Zia encontra um russo enjoado, cuja família toda também se matou; e a verdadeira mocinha do filme tem um figurino legal, mas a personagem é igual a todas as outras que fazem o estilo: finjo que não ligo para nada, mas no fundo tenho sentimentos. Sei que sou gatinha, mas também não faço idéia. Aparento ser liberal, mas no fundo acho que não. And so on. O legal é que a menina tá nesse buraco por erro, pois ela não se matou, ela apenas teve uma overdose (aaaaaaaaaahhh.... bom!!). O filme acaba com um final feliz e despretensioso, mas o fato é que eu fiquei realmente feliz com o destino dos protagonistas (preciso dizer que Zia e a doidinha se apaixonam? Não, né?).
Mas o mérito do filme vai mesmo para os cartazes, que apostaram não nas fotos still, sempre presentes nos pôsteres atuais, em detrimento da arte gráfica (uma pena... é só dar uma olhada nos cartazes mais antigos para saber que desenhado é muito mais legal e original!).
Neste filme, além de diferentes versões, o pessoal do marketing ainda mandou fazerem um cartaz horizontal (que é o must have da atualidade), esse com foto still (o que não estragou o cartaz, em definitivo. Ficou até charmoso).
Wriscutters - A Love Story
País: EUA/Inglaterra
Direção: Goran Dukic
Ano: 2006
Duração: 88 minutos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirRapaz, ri com esse post, visse? Fora que paixão violenta ainda é uma total redundância, tipo comer doce de batata doce ou sorvete de chocolate com calda de chocolate. Creio que deve haver um livrinho com palavras-chaves onde eles buscam esses títulos. "Bom, o filme tem...paixão, então vamos lá pra letra P e se tem morte... hum, paixão violenta". Ler sinopse ou assistir o filme dá muito trabalho, tadinhos, né? Fazendo assim esse trabalho voluntário, vamos dar um desconto...
ResponderExcluirBeijo moça Lígia!
Rapaz, não acredito que vc quer tatuar também! Pois faz tempo também que quero colocar ele de alguma forma na pele. Coincidência danada!
ResponderExcluirbeijo!