9 de janeiro de 2010

Uma paródia


Mojitos
(Lígia Benevides Batista
)

Eu como porque a fome insiste
E minha larica é incompleta
Não quero peixe nem bife:
quero moqueca

Pão com fatias fininhas
Não sinto o gosto nem o momento
Atravesso a rua
pra comer pastel de vento


Motivo

(Cecília Benevides Meireles)

Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

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