Estou re-publicando um antigo texto que publiquei no meu outro (e esquecido) blog, POEMIA CAÓTICA. Intitula-se "Juvenília".
Perguntaram-me o que é ser jovem, e fui ter com Aurélio, velho conhecido, que me informou que jovem vem do Latim juvene, e me deu o significado: moço, juvenil. Eu esperava mais, algo como feliz e alegre, força e vontade; quando vi, a vizinha de baixo de jovem era jovial, em alusão a Jove ou Júpiter, e por isso quer dizer alegre, prazenteiro, folgazão, ou engraçado, espirituoso, chistoso. Aurélio ainda me sussurrou nas idéias para eu procurar juventude, a algumas páginas dali. Eis que a encontro, e também muitas outras palavras aparentadas dela – juvenê, que é uma árvore do Sul, juvenescer, juvenescimento, juvenil, que por extensão tornou-se jovem, juvenília, juvenilidade, juvenilizante, juveníssimo, que é o superlativo absoluto sintético de jovem, juventa, e, por fim, encontrei o que é a juventude.
A palavra vem de juventute, é uma palavra Latim. Idade moça; mocidade, adolescência, juventa, e o mais interessante – juventude é a fase do ciclo de um lago na qual ele recebe mais água do que perde e por isso tem maior duração. Será dessa forma transposta a juventude para os não-aquáticos jovens da Terra?
Ser jovem – não sei o que é ser jovem de maneira universal. Ser jovem, ser brasileiro, ser gente, ser humano. Não vejo a necessidade de rótulos mais, pois desnecessário e minimizante é destituir o homem da continuidade do seu amadurecimento. Talvez para a OMS ser jovem é ter de 18 a 25 anos. Albert Schweitzer contou que “os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma”. E, traduzindo uma parte do jovial, Lorinho:
“A noite é uma criança
e eu sou o brinquedo
não sou eu que chego tarde
é o sol que nasce cedo!”
Marley cantou:“Nós nos recusamos a ser como vocês queriam que nós fôssemos. Nós somos o que somos. É assim que vai ser”.
Disseram os homens sábios da China – a juventude só morre quando a matamos.
Ser jovem é ir em busca de tudo o que é de Exu e de Hermes. É ser o Louco, o número Zero. Busca do amálgama entre a sanidade e o sentimento, querer tanto o pranto quanto a morte, o prazer e o saber, a sensação de se estar sempre atento, procurando nos livros, nas músicas, na humanidade, as respostas para as questões que estão sempre na superfície do pensamento. A juventude é presença de espírito jovem, da coragem e da vontade que querem o que é difícil, e o que é fácil, e o que é infinito. Não ficar parado quando o mundo girar, mas ajudar a mantê-lo rodando, sempre. Viver o milagre de sentir passar o tempo, que tem um minuto apenas de vida, e não se surpreender com a velhice da matéria, e não permitir contaminar-se pela velhice da alma. É não esquecer de reparar cuidadosamente em tudo o que se vê pela primeira vez, e pela segunda e décima e última vez, e não temer perguntar o que não se sabe. Reclamar sorrindo, no mínimo.
Sei também o que não é ser jovem: igualar-se à triste juventude da mídia, badalada, drogada, mal-amada, despreparada, vestibulada. A juventude é como um sentimento, e ser jovem é sentir a juventude, e lutar por ela. E, principalmente, lutar com ela. Não deixar que a vida seja um livro sem nenhuma gravura!, onde não há quem saiba ler; não ser um filme queimado, uma música surda-muda ou uma dança de pé quebrado (ah, Ziraldo!). Pedir sinceridade apenas quando se é sincero.Não plantar o sentimento como sedimento.
[Novembro de 2002]