Quando chega a noite eu sempre páro pra refletir sobre o dia, sobre o que eu fiz ou o que eu deixei de fazer. Também penso no dia de amanhã, nas próximas realizações. Confiro a agenda, rabisco alguma coisas. Então, depois que tudo acaba, eu me lembro. À noite é sempre mais difícil. Todos se calam, a música cessa, os pássaros não cantam mais nenhuma beleza. As cigarras e os grilos sussurram apenas para nos lembrar que a noite é feita de silêncio e breu. O escuro e o silêncio. Uma certa solidão adentra junto com a brisa da noite, com cheiro de frio e de passado. Então, eu me lembro de tudo o que gostaria tanto de esquecer. Me torno uma idealista: esqueço tudo de ruim que houve, começo a imaginar um passado que não existiu, com pessoas que não são reais. São ideais, como minha lembrança. Uma mancha que não vai sair. Eu sempre vou lembrar disso. Mas eu antes estava bem, estava feliz e tranquila. Agora, não. À noite é a mais difícil das horas. É a hora em que leio poesia ou filosofia, então eu repenso tudo. Tento, agora que percebi, não idealizar este passado morto. Mas penso milhares de formas de não sofrer sozinha. Mas que indiferença que faz? O ridículo de não entender, de ser quem você é e saber que não existe mudança, existe transformação, existe alquimia, existe a necessidade de fazer diferente. Eu ouço tudo aquilo que vai esvaziar esse sopro de angústia que está dentro de mim. Falta pouco. Falta muito pouco.
Esta imagem é uma fotografia de Janni Tapanila (http://suzi9mm.com/index.php), intitulada Cut-II (sem data), que conheci devido aos estudos sobre arte corporal da minha querida amiga Badan.
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