4 de setembro de 2012

Orçamento Participativo

Se nas escolas do Brasil fosse obrigatório o ensino de Controle Financeiro, acho que muitos brasileiros não teriam entrado no buraco sem fundo das dívidas. Algumas pessoas têm o dom supremo de serem controladas com o seu dinheiro, o que infelizmente não é o meu caso. Não que eu seja completamente desvairada no assunto, mas isso só acontece porque eu sou pão-dura que dói.

Morando no exterior, a maneira mais prática e barata que eu arranjei de lidar com o dinheiro foi arrumar o tal cartão Visa Travel Money, mas para cada saque que eu faço, pago 2,50€, cerca de 6 reais. É muito, pois só posso sacar no máximo 200€ por vez. Ou seja, para cada mil euros que eu saco, pago 12,50€, cerca de 30 reais. Não é assim um descalabro total, mas dá aquela raivinha, afinal, bancos e operadoras de cartão são a institucionalização da sacanagem.

Minha ídola, Malu, é dessas pessoas que têm o dom do controle financeiro. Mesmo com pouco, ela vive bem, consegue se divertir, poupar e até investir. Isso acontece por dois motivos: ela não é consumista, nem vaidosa além da conta; e toda semana, ou toda quinzena, ela senta na frente do computador com o extrato do cartão e os recibos de compra e coloca tudo numa planilha. Ela sabe exatamente como gasta cada centavo do seu dinheiro, e faz todas as operações de pagamento, poupança e investimento logo que recebe seu salário. Assim, ela vive com o que sobra, e tá-se bem assim.

Hoje ela me mandou a sua planilha. Fiquei horas olhando pr'aquilo e entrando em depressão. Fui buscar os meus recibos e chafurdar na lama da minha memória em busca de explicações para o meu caos financeiro. Passei o dia todo nesse processo, e ao fim do dia fiquei feliz porque tinha zerado a contabilidade. Só que, como nada é perfeito, e muito menos a minha matemática, acabei por perceber que não, havia um «buraco» de 91 euros na conta. Inútil lutar contra o esquecimento. Criei o item «Desconhecido» e taquei lá essa diferença absurda. A calculadora sorriu para mim e eu passei pro mês de Setembro.

Não sei se a coisa toda ficou completamente correta. Vamos ver se ao longo do mês eu consigo manter a dignidade do meu orçamento semanalmente. Apesar de ser mais da área de Humanas, de gostar de escrever, de ter preferido as aulas de História e Geografia às de Matemática, eu confesso que, no fundo de minha alma taurina, gosto dos números, gosto da tal Matemática Financeira. Gosto de ver quando a conta bate, quando os números se subtraem, somam-se e completam-se numa aritmética perfeita.

O meu pai e todos os meus irmãos trabalham na área da Contabilidade, e quando eu tinha 13 anos trabalhei pela primeira vez com o meu pai, no seu escritório, e era responsável por checar se as contas dos inventários batiam. Geralmente, quase não havia problema. Era um trabalho meticuloso e de calculadora. De vez em quando a conta não batia, então eu ia até um funcionário mais experiente e a gente tentava descobrir o que estava errado. Essa era a parte que eu mais gostava, porque era emocionante, e eu me sentia útil.

Bons tempos aqueles. Aprendi muito, e apesar de não ter trabalhado muito tempo com meu pai, o pouco que aprendi me foi muito útil quando eu fiz meu primeiro filme, «Cadê a Véia?», lá em 2006, aos 21 anos (quase 22), com um financiamento do governo do Estado de Goiás. Contratei um amigo meu para ser o produtor executivo, e ele me deu o cano. Acabei tendo eu mesma que fazer a prestação de contas. E eu consegui, ficou tudo certinho e lindo. Não sei se fizeram auditoria do processo, porque a Agepel (Agência Goiana de Cultura) era uma zorra, uma vergonha pública, mas sei que já se foram 6 anos e nunca me convocaram para explicar qualquer mal-entendido numérico.

Enfim, posto isto, amanhã vou comprar um pequeno bloco de notas e vou andar com ele e com um lápis na bolsa, e vou anotar tudo, tudinho que eu gastar que não venha com recibo. E vou cuidar de guardar os recibos n'algum lugar seguro, diligentemente. E todo domingo ou segunda (ainda não decidi) vou sentar, como Malu, na frente do computador, e organizar a minha vida.

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