Quando eu tinha 20 anos eu participei, pela primeira vez, da realização de um curta-metragem, na função de produtora de objetos, de cenário e de figurino, função que dividi com duas outras moças. Foi uma tarefa bem-sucedida, posto que o filme recebeu o prêmio de Melhor Figurino na Mostra da ABD-Goiás, em 2004. Foi o meu primeiro filme, e o meu primeiro prêmio. O diretor do filme não dividiu a grana do prêmio conosco - e foi logo aí que presenciei o primeiro racha na equipe que até então era composta por amigos. Uma das figurinistas ficou particularmente chateada com isso, mas o engraçado mesmo é que, quando o filme que ela dirigiu (e eu produzi, e no qual todo mundo trabalhou de graça) ganhou o prêmio de Melhor Filme Univesitário, ela não dividiu o prêmio com ninguém - e depois que a roteirista chiou e bradou e bateu o pé, ela ganhou lá uns 300 reais. Pimenta nos olhos dos outros é refresco, né?
Quando o «Boca no Lixo» ganhou um prêmio de 10 mil reais de Melhor Curta Goiano, em 2007 ou 2008, não me lembro bem, todo mundo que trabalhou ganhou a sua parte no prêmio - e eu fiz questão de que fosse uma grana boa, porque não foi um prêmio de direção, foi um prêmio de equipe. A co-diretora do filme era a mesma menina do filme que mencionei no parágrafo anterior. Diante da minha veemência, ela não se opôs completamente, mas achou que as fatias estavam grandes demais. De todo modo, ficou o valor que eu estipulei.
O cinema, como qualquer outra atividade humana, não prescinde da ética, não prescinde de uma regulação. As pessoas pensam diferentemente umas das outras, mas elas precisam chegar num acordo. Cada um faz o filme que quiser, produz da maneira que lhe é conveniente, mas precisa arcar com as consequência do seu modus operandis e enfrentar as críticas, e defender o que pensa. Nenhum filme é unanimidade, e nenhum filme escapa da dimensão ética, seja no estágio de pré-produção, pós ou quando cai na mão da plateia.
Lá se vão oito anos desde o meu debut como figurinista, e lá se vão seis anos do debut como diretora de uma ficção. Não é muito tempo, eu sei, mas já é uma estrada, um atalho ou um caminho. Nesse período, fui iniciada na cinematografia brasileira e mundial, e um dos expoentes de ambas é o famoso Glauber Rocha, muito conhecido também pelo íntimo e casual Glauber. No Brasil, e isso eu já até li n'algum lugar, existe uma proximidade muito grande com seus «ídolos», com suas figuras públicas. É uma intimidade que o povo tem com as pessoas famosas, seja de quais áreas forem, e que eu acho particularmente admirável. É o Glauber, é o Chico, é o Caetano, é o Gil, é Bethânia, é Gal. Talvez o único que não seja assim chamado sem o sobrenome é o Sílvio Santos, mas é porque o povo fala como se fosse uma coisa só: Silviosantos.
Pois é. A Cinemateca Portuguesa, o primeiro lugar que eu conheci quando cheguei em Lisboa, há quase 2 anos, vai fazer uma retrospectiva do Glauber. E eu, que apesar de há tanto tempo envolvida com isso de cinema, nunca consegui ver um filme inteiro dele (exceto pelos curtas, Di Cavalcanti e Maranhão 66) sem dormir ou desistir, ou porque estava mesmo com sono, ou porque a cópia da internet era tão ruim que eu não via nem entendia nada do que o povo dizia.
Mas agora eu não tenho mais desculpa, porque a Cinemateca vai exibir as películas restauradas, com legenda e tudo o que se tem direito. Estou mesmo emocionada com a possibilidade de ver o Glauber em tela grande, no cinema, em 35mm (sou fetichista mesmo). Quero ver todos os filmes, todos, porque quero aproveitar essa oportunidade de, fora do Brasil, ver o seu ícone máximo do cinema.
Fiz uma agenda e vou tentar cumpri-la à risca.
Dia 10, 19h
Barravento
Dia 12, 19h30
Deus e o Diabo na Terra do Sol
Quando o «Boca no Lixo» ganhou um prêmio de 10 mil reais de Melhor Curta Goiano, em 2007 ou 2008, não me lembro bem, todo mundo que trabalhou ganhou a sua parte no prêmio - e eu fiz questão de que fosse uma grana boa, porque não foi um prêmio de direção, foi um prêmio de equipe. A co-diretora do filme era a mesma menina do filme que mencionei no parágrafo anterior. Diante da minha veemência, ela não se opôs completamente, mas achou que as fatias estavam grandes demais. De todo modo, ficou o valor que eu estipulei.
O cinema, como qualquer outra atividade humana, não prescinde da ética, não prescinde de uma regulação. As pessoas pensam diferentemente umas das outras, mas elas precisam chegar num acordo. Cada um faz o filme que quiser, produz da maneira que lhe é conveniente, mas precisa arcar com as consequência do seu modus operandis e enfrentar as críticas, e defender o que pensa. Nenhum filme é unanimidade, e nenhum filme escapa da dimensão ética, seja no estágio de pré-produção, pós ou quando cai na mão da plateia.
Lá se vão oito anos desde o meu debut como figurinista, e lá se vão seis anos do debut como diretora de uma ficção. Não é muito tempo, eu sei, mas já é uma estrada, um atalho ou um caminho. Nesse período, fui iniciada na cinematografia brasileira e mundial, e um dos expoentes de ambas é o famoso Glauber Rocha, muito conhecido também pelo íntimo e casual Glauber. No Brasil, e isso eu já até li n'algum lugar, existe uma proximidade muito grande com seus «ídolos», com suas figuras públicas. É uma intimidade que o povo tem com as pessoas famosas, seja de quais áreas forem, e que eu acho particularmente admirável. É o Glauber, é o Chico, é o Caetano, é o Gil, é Bethânia, é Gal. Talvez o único que não seja assim chamado sem o sobrenome é o Sílvio Santos, mas é porque o povo fala como se fosse uma coisa só: Silviosantos.
Pois é. A Cinemateca Portuguesa, o primeiro lugar que eu conheci quando cheguei em Lisboa, há quase 2 anos, vai fazer uma retrospectiva do Glauber. E eu, que apesar de há tanto tempo envolvida com isso de cinema, nunca consegui ver um filme inteiro dele (exceto pelos curtas, Di Cavalcanti e Maranhão 66) sem dormir ou desistir, ou porque estava mesmo com sono, ou porque a cópia da internet era tão ruim que eu não via nem entendia nada do que o povo dizia.
Mas agora eu não tenho mais desculpa, porque a Cinemateca vai exibir as películas restauradas, com legenda e tudo o que se tem direito. Estou mesmo emocionada com a possibilidade de ver o Glauber em tela grande, no cinema, em 35mm (sou fetichista mesmo). Quero ver todos os filmes, todos, porque quero aproveitar essa oportunidade de, fora do Brasil, ver o seu ícone máximo do cinema.
Fiz uma agenda e vou tentar cumpri-la à risca.
Dia 10, 19h
Barravento
Cartaz no Brasil, França e Reino Unido
Dia 10, 22h
Terra em Transe
Deus e o Diabo na Terra do Sol
Um cartaz brasileiro que eu ainda não conhecia, a versão alemã e a versão francesa.
Clique para ver maior.
Clique para ver maior.
Dia 13, 22h
Câncer
Dia 14, 21h30
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (a.k.a. Antônio das Mortes)
Várias versões, inclusive uma (a quarta) que me parece ser alemã
Dia 17, 21h30
Der Leone have sept cabeças (O Leão de Sete Cabeças)
Cartaz francês e alemão, sendo que a ilustração do primeiro é uma obra do Kandinski
Dia 18, 21h30
Cabezas Cortadas
Cartaz alemão (ou austríaco?) e o cartaz brasileiro
Dia 24, 22h
História do Brasil
O próprio
Dia 26, 22h
Claro
Um arremedo de cartaz, não sei se é o original
Dia 27, 22h
A Idade da Terra
Dia 27, 19h
Curtas-Metragens
Pátio | Amazonas, Amazonas | Maranhão 66 | Di Cavalcanti
O polêmico filme feito no enterro do pintor Di Cavalcanti
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